E eis que na semana em que se comemora o Dia Mundial da
Prevenção ao Suicídio (10/11), uma celebridade tira a própria vida. A morte do
músico Champignon, da banda Charlie Brown Jr., chama a atenção para um dos
perigos silenciosos da vida contemporânea.
Para as vítimas, em determinados momentos, é inevitável
pensar na morte como a única saída para uma situação limite. Essas pessoas
consideram que prescindir do direito de viver, apesar de ser uma ‘solução’
permanente para um contexto de momento, vai por fim ao sofrimento intolerável
que estão sentindo.
Para nós, psiquiatras, falar sobre suicídio é algo
desafiador. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em média um milhão de
pessoas por ano tiram a própria vida em todo o mundo, uma morte a cada 40
segundos! E para cada tentativa bem sucedida, pelo menos quatro falham. Logo,
são cinco milhões de pessoas no planeta vivendo no limite.
Outra estatística: 20% das pessoas quem tentam se suicidar e
não conseguem, repetem a ação em menos de um ano, quando não procuram ajuda
especializada.
Cada pessoa têm os seus próprios motivos para desistir de
viver, geralmente criados por mudanças repentinas nas circunstâncias de vida (dificuldades
financeiras, mudanças no contexto familiar, fim de uma relação etc) ou a falta
de perspectivas e projetos futuros. No entanto, é mais comum que esses fatores
negativos floresçam em pessoas que apresentam alguma patologia mental como
depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, alcoolismo ou abuso de drogas. Seguramente
mais de 90% dos casos tem problemas psiquiátricos como pano de fundo.
O suicídio pode ser uma decisão silenciosa, mas raramente repentina.
Na maioria dos casos a vítima constrói um plano, estabelece uma data, define um
método e pensa na possibilidade, antes de tomar uma decisão definitiva. O
suicida dá pistas e sinais de alerta para os quais precisamos estar atentos.
Falar sobre a morte ou tentar demonstrar que não há razões
para viver (frases como “não importa mais”) é um indício, geralmente
acompanhado de uma mudança acentuada de comportamento e isolamento social.
Como intervir? É fundamental ser compreensivo com o suicida.
Ouça não apenas os fatos, mas sua dor e medos. Não julgue, nem dê conselhos ou
opiniões. Reconheça o seu sofrimento, valorize o que é dito e demonstre que
está disponível para ajudar. É fundamental que essa pessoa saiba e sinta o quão
importante ela é, que a sua vida tem valor.
Se o suicida não fala abertamente, é importante tomar a
iniciativa de conversar com ele. Diga que percebeu sua mudança de comportamento
(explique o que percebeu) e não hesite em questionar se a pessoa coloca o
suicídio como alternativa. É importante que ele saiba que sua morte causaria
sofrimento e que muita gente sentiria sua falta.
Uma vez detectado esse comportamento suicida, a vítima precisa
de medicação, acompanhamento médico e, em alguns casos, vigília 24 horas. O
profissional psiquiatra vai avaliar a condição da família de observar esse
paciente e pode recomentar a internação se necessário.
O Brasil não está entre os países com índices mais altos de
suicido. Mesmo assim, em média 10 mil brasileiros tiram a própria vida todos os
anos. Todo mundo conhece alguém que tenha tirado a própria vida ou que fez uma
tentativa grave. E, o mais importante, todo mundo conhece alguém que, neste
exato momento, possa estar pensando em se matar. Assim, informação sobre o tema
e intervenção adequada podem fazer toda a diferença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário